Disseste-me
tu, hoje:
É
um pensamento meu, que reside no facto de gostar de dar atenção a
tudo e todos, e não ter tempo...
É um
equilíbrio que me custa encontrar
Creio que
também passas (ou já passaste pelo mesmo)...
Ironicamente
não falámos mais sobre este assunto, apesar das horas que
costumamos falar. Não sei porquê. Talvez não quisesses abordar
esse assunto e, eu por um qualquer motivo só me recordei dele quando
foste dormir. Não, não foi isso...
As minhas
deambulações sincronizam-se com a noite, melhor, com as altas horas
da madrugada, é nesse espaço que elaboro o meu dia quando o
silêncio se instala de tal forma que não existe desculpa de
qualquer perturbação.
À falta de
palavras minhas e, porque muitos já escreveram belas, mas também
duras e, sensatas palavras sobre o sentimento de não conseguirmos
responder satisfatória e prazerosamente a todas as solicitações
que se nos colocam, deixo daquelas que li as que me marcaram mais.
De Sartre
aprendi sobre a realidade humana que ser é escolher-se: nada lhe
vem de fora, nem tão pouco de dentro, que possa receber ou aceitar.
Está inteiramente abandonada, sem auxílio de nenhuma espécie, à
insustentável necessidade de ser até ao mais ínfimo pormenor.
Assim, a liberdade não é um ser: é o ser do homem, quer dizer o
seu nada de ser. (…) O homem não pode ser ora livre, ora escravo;
ele é inteiramente e sempre livre, ou não é.
E é em estar,
sentir, contemplar - com as angústias de que fala Exupéry - que é
possível Ser. Porque as angústias invadem quer o inquieto,
exclusivamente deslumbrado por aquilo que arde com uma luz vaga; quer
o poeta cheio de amor pelos poemas que nunca escreveu o seu; quer a
mulher (e o homem apaixonados) pelo amor, mas incapaz(es)
de devir por não saber(em) escolher.
Exupéry
acreditava que essas personagens sabiam que ele podia curá-los da
angústia, bastava para isso que ele lhes permitisse esse dom que
exige sacrifícios e escolha(s) e o esquecimento do universo.
E explicava
porquê. Porque determinada flor é, em primeiro lugar, uma
renúncia a todas as outras flores. E, no entanto, só com esta
condição é bela. É o que acontece com o objecto da troca. E o
insensato, que vem censurar a esta velha o seu bordado, sob o
pretexto de que ela poderia ter tecido outra coisa, demonstra com
isso que prefere o nada à criação.
Sim! É como
diria Pavese a ironia da escolha. É um sinal do carácter trágico
da vida, que consiste no facto de um valor não se conciliar com
outro. Renunciamos a muitas coisas para ter uma só e as pessoas
que tomam como garantida qualquer coisa entram em colisão com quem
tem esta visão pois, pretendem escapar a esse lado trágico da vida.
As pessoas que gozam vagamente qualquer coisa, idem, na medida em
que também negam, por avidez, a incerteza e a contingência. Aspirar
a qualquer coisa, pretendê-la, é em si mesmo agressivo na medida em
que suprime a ironia da vida.
Passamos
a Freud! Odiamos os outros porque nos
odiamos a nós próprios. O que se
pode estender a tomarmos por garantido o que não devemos. Irónico?
Certo?! Talve a fé seja aqui a
solução... mas sobre isso saberás certamente mais respostas e
questões que eu !
No fim,
criamos aquilo que está em nós, o que somos e, não podemos ser uma
e outra coisa. O ser e a sombra, da Ursula K. Le Guin, nomes
diferentes mas, unos e, só aquando da descoberta desses dois, apenas
um, Ser.
1 comentário:
Palavras amigas,
são como abraços,
são como cantigas,
fortalecem laços!
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