Sei que já és velhote! O teu aspecto denúncia a tua idade, o teu estado de saúde, mas não o teu estado de espírito...
O cabelo grisalho, a pele enrugada, a magreza que cobre os teus finos ossos, o teu olhar profundo e doce, a tua voz determinada, esse rosto e esse corpo marcado por toda uma vida de trabalho no campo... essa fibra que te caracteriza e que faz de ti a pessoa maravilhosa que és. O meu avô.
Como suportar a ideia de que estás doente? Ver que emagreceste de forma abrupta, que estás finado ao espaço físico da tua casa, quando sempre te vi a trabalhar vida fora no campo? A terra que te dá a vida, a felicidade, e que agora não podes ver, apenas recordar... Há 2 meses que não a vês apenas falas dela. Dos frutos que nela plantaste e que sentes morrer...
Sufoca-me ver-te assim. A dor é tão dilacerante que nem a consigo descrever. Como podemos justificar que não há tempo para cuidar de algo a que dedicaste a vida? Que não temos a capacidade de fazê-lo, que somos ignorantes quanto a essa arte?
Tentamos remendar a nossa ignorância por umas horas. Vamos ao campo apanhar umas uvas, uns figos, umas azeitonas, mais isto e aquilo... Somos tão imprestáveis nesta arte que acabamos sempre por trazer as uvas verdes ao invès das maduras! Dá vontade de rir da nossa ignorância e desconhecimento... mas dá mais vontade de chorar por percebermos que sabemos tão pouco acerca de algo que amas tanto...
Quando dizes que nunca mais poderás fazer nada do que gostas, é a muito custo que tento guardar as lágrimas para que não as vejas. Sei que temos que ser fortes por ti! Eu quero e tento todos os dias, mesmo quando estou longe e tenho noção que perco sempre por não te ver, por não estar contigo... sei que tenho que construir a minha vida, mas não consigo deixar de pensar que ao andar nesta correria outra parte da minha vida fica para trás...
Mas sei e sinto que ainda iremos os dois apreciar a paisagem maravilhosa do barrocal, com um sol reconfortante e cheio de vida a iluminar-nos, com o canto dos pássaros de fundo, apreciando as flores do campo, respirando aquele ar único que nos enche de vida e que traz ao teu rosto esse sorriso terno e aos teus olhos esse brilho e vivacidade que és tu.
ADORO-TE...
1 comentário:
O tempo passa descontrolado e nós vivemo-lo descontrolados, percepcionando na nossa lucidez jovem o acumular dos anos na senilidade idosa... Custa admitirmos que há um fim para tudo... Custa tanto vê-los a partir para esse fim, impotentes e desarmados. Resta-nos adorá-los, amá-los e agradecer-lhes toda a vida que a eles e a nós dedicaram... resta-nos acompanhá-los e afagá-los ao mesmo tempo que lhes sussurramos ao ouvido: Ficarás para sempre comigo...sempre. Um beijo cheio de força amiga do coração
Enviar um comentário