Numa noite de chuva miudinha a caminho de casa, um precalço que se revelou maravilhoso e temível.
Imagino esse gesto que me desconcertou, que me arrancou do pedestal como se eu fosse intocável por qualquer sentimento que pudesse existir, como se eu pudesse ser pretensiosa ao ponto de pensar que tudo é controlado e que nada me escapa...
O coração correu solto, como se eu não tivesse qualquer controlo sobre ele. Como se me estivesse a dizer que não controlo o espaço em que me movimento. Que tal como eu gosto de ser livre o mundo também o é, que é isso que torna tudo tão maravilhoso e brilhante, que nos ofusca, nos arrebata e nos faz querer viver.
Apesar de me ter sentido receosa, de não saber como viver esse sentimento ou geri-lo... por saber que era impossível pois havia muito mais que isso a proteger, a acarinhar... por tudo o que envolvia e era já memória partilhada e sentir...
Viver com esse turbilhar de emoções todos os dias, desde essa chuva miudinha, tentando integrar todas as palavras e gestos... era impossível.
Permaneceu o que havia e que se continua a construir, e a certeza de um sentimento muito maior (ou eu gosto de pensar que sim, apenas por uma doce ilusão...).
Todos os dias se aprendem coisas novas. No mundo do sentir quanto menos se espera, está mesmo ao virar da rua essa chuva miudinha, gestos, olhares e palavras que nos arrebatam e permanecem na doce lembrança do passado...
A impossibilidade está no impossível de matar tudo por um momento... a vida vive-se e constrói-se todos os dias como os sentimentos... para quê uma manta de retalhos quando podemos ter uma manta linda, felpuda, em que o seu material é impossível de desfiar, de apartar, que nos aconchega e se sente como única?!
a lembrança de um sonho...
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