domingo, setembro 24, 2006

à primeira vista...

Um breve olhar, e a assumpção de que vemos tudo o que há a ver... um erro, há mais para ver do que o olhar alcança...
Sentir, sentir que todos os sentidos são postos à prova como se fosse a primeira vez. Inspirar o ar, como se fosse a primeira e a última vez - sentir esse aroma adocicado, mas frio e puro que parece impossível de ser contido numa única inspiração... que tem o poder de nos enebriar de tanta vida que traz e com a qual nos enche... que ao mesmo tempo nos transporta para um carrocel de sensações maravilhosas e que normalmente chamamos de "indiscritíveis" não venham as palavras minimizar tudo o que sentimos nesse momento...
Soltar uma gargalhada, bem do fundo. Uma gargalhada de alegria, cheia de força, de vitalidade. Um grito de libertação, a plenos pulmões. Fazer o pino! Ver e sentir o mundo de outra perspectiva...
O sol que nos toca a face. Que nos acarinha, que nos aquece a face, e a alma. Que nos alimenta o espírito.
Tocar o ar. Deixar que ele passe entre os dedos das mãos, brincando com eles... uma dança subtil, prazerosa... deixar que ele perpasse os poros da nossa fina pele, quase como se nos fizesse cócegas. Ouvir os barulhos que ele faz, os sussuros, as queixas, as alegrias e as tristezas que traz... como se ouvissemos uma valsa, que nos transporta para um outro mundo... não um mundo de fantasia, mas esse mundo secreto que existe dentro de nós!
Querer sentir tudo isso... querer, mas não saber onde é, nem como lá chegar... o mapa está retalhado, num mundo tão cheio de sensações, que as mais puras, as que nos orientam, acabam por se perder num enredo de cores, sons, cheiros, tactos, experiências...
Tento abstrair-me de todos os sons, cheiros, objectos, visões... mas, em vão... parece que por muito que me tente concentrar todas as sensações das quais deveria ter a certeza, teimam em não dar sinal do seu paradeiro, e andam perdidas, até mesmo dentro de mim!
O ar não flui como devia, não brinca com os meus dedos, não perpassa todos os poros... a visão está pouco apurada, o coração também não ajuda... parece que é uma prisão - tantas sensações, nenhuma distinção delével das que procuro, das que sei serem minhas... resta-me continuar a procurar.

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