
Sonhava por um destes dias, ao olhar a imensidão do mar, com uma ilha. Como seria bom, existir uma ilha no meio daquele azul, sem ninguém que pudesse estragar a tão desejada harmonia.
Uma ilha com pássaros exóticos de cores fabulosas, esvoaçando por entre àrvores verdejantes, frondosas, ancestrais, cheias de vida... com pessoas tão exóticas quanto os animais que lá existiam. Pessoas cheias de vontade de viver, de aprender, de mudar, de ansiar por um mundo melhor.
Juro que estou a ouvir o som do mar, acompanhado pelos instrumentos mais melodiosos e harmoniosos, tocados por gente singular de gostos simples... uma vida pacífica e prazerosa, sem grandes discussões morais ou presunções acerca da individualidade de cada um – sim, seria mesmo paraíso...
De repente, começo a ouvir um barulho de fundo. Olho à minha volta, e por um instante a minha ilha desapareceu por entre a realidade externa do mundo que me rodeia. Um mundo apinhado de economias: economia de tempo, economia de espaço, economia de culturas, economia de palavras... um mundo em que não há tempo para nada, nem para disfrutar do que nós próprios nos propomos.
É um telemóvel que toca, uma conversa que é interrompida, alguém que fica a olhar para o céu, alguém que brinca sozinho,... – são as vicissitudes de um tempo para o qual vivemos, que não chega, que cada vez mais parece menos para tudo o que queremos fazer... e para isso vivemos a mil! Estamos com todos e com niguém, estamos com todos e não connosco, estamos aqui mas não estamos!
Nem tempo para reflectir há! Nem tempo para apreciar... nem tempo, nem disponibilidade mental, para podermos construir a nossa ilha, com todos os desejos – que acabam por não passar disso mesmo e que acabam por perder-se na economia psicológica de uma construção que deixamos a meio... sociedade consumista, quer monetária, quer psicológica, quer do espírito...
Desfragmentação do ser, que aceita a acção reacção, que não pára para mudar, nem para construir... reformula apenas os limites do já existente, muda-lhe as palavras e de vez em quando a forma do agir, mas na realidade é sempre o mesmo... ser coartado, apagado, esvaziado de todo e qualquer sentimento, porque vivemos um tempo de economia. Infelizmente, um tempo de economia das emoções, do estar, do ouvir...
Economizo assim, mais umas tantas palavras que também não escreverei para ajudar à corrente economizadora. Mas..., na esperança de que o movimento centrípeto resolva aparecer, me invada e eu não aguente fazer mais parte desta corrente, porque a economia das emoções, do estar e do ouvir não faz parte de mim... apenas estou a ir a favor da corrente, numa economia psicológica que concerteza se irá transformar na minha vontade interna, acabando por contrariar este ciclo vicioso, para o qual estou ciente “já dei para o peditório”!
“don’t be afraid to be weak, don’t be proud to be strong, just listen to your heart my friend, that will be the return to yourself, the return to innocence” – e por certo, voltarei a ver uma vez mais a minha ilha secreta, cheia de seres fantásticos e mágicos, e um dia quem sabe ela passará da realidade interna para a externa – sem alucinações ou miragens...
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