quinta-feira, junho 08, 2006

dúvidas, perguntas e questões...

Fiquei angustiada, pensei que ele (incógnito) talvez não voltasse à consulta.
Pouca "fé" da minha parte, tanto na pessoa, como no nosso trabalho e nas nossas pessoas. Hoje, quando há hora o Incógnito não apareceu, pensei mesmo que ele tivesse desistido! Desistido da sua luta, por ele não se querer confrontar com a sua realidade, ou por não o termos conseguido ajudar.
Se bem que na parte de o ajudar, a dúvida estava sanada desde esta terça-feira. A escolha só pertence ao Incógnito, não a mim, nem a outro, nem a mais ninguém. Penso, da mesma forma que só vemos o que queremos, também só mudamos porque queremos.
Fiquei feliz quando o vi entrar para ir fazer as análises. Senti mesmo o esboçar de um sorriso, como se me tivesse voltado a esperança - em mim e nele. Por não ter desistido, por ter mostrado compreender que estamos lá para o ajudar - basta ele querer.
Voltou mais solto, mais franco, mais consciente, menos receoso...
"Da última vez que cá estive, deixei o carro ali e as chaves tinham ficado na porta do carro, foi um agarrado que as entregou ao segurança - até me admira" - esta confesso deu-me vontade de rir.
"O que é isso de um agarrado?"
- "Isso de um agarrado é um toxicodependente..."
"E você não é um agarrado?"
- "Claro que sou, sou um agarrado..."
Um discurso muito diferente da última vez, muito mais reconhecedor do problema. Mais presente na relação, mais confortável connosco naquele espaço cinzento, apesar de estar a trabalhar e não puder ficar por ali muito tempo...
- "Tenho o carro mal estacionado e também estou a trabalhar" (como quem tem de ir embora)
mas logo de seguida, muda de assunto, começa a falar de outra coisa, e só passados 10 minutos é que vai embora, mesmo assim connosco a dizermos:
- "ponha-se lá na alheta que não queremos prejudicá-lo. Até à próxima e bom trabalho..."
Vale a pena não duvidarmos dos outros, entendermos as nossas frustrações e as frustrações que os outros nos causam. Valeu a pena esperar 2 horas, o incógnito acabou por aparecer e mais disponível e a precisar daquele espaço, melhor a aproveitá-lo.
Caramba, é que ganhei mesmo o dia.

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