quinta-feira, junho 01, 2006

1 junho - dia mundial da criança

Hoje faço questão de fazer sair a criança que há em mim. O que não quer dizer que nos outros dias ela não saia cá para fora...
Ainda hoje de madrugada, convidava a Marta a brincar comigo. Mas disse-lhe que ela podia escolher, desde as escondidas ao lencinho da botica. Também ela se sentia a esta hora uma criança irrequieta, com vontade de fazer travessuras - daquelas que nem somos capazes de imaginar... é que a Marta é uma brincalhona ;)
As crianças são a alegria e o amor personificados. Como passar por uma e não sorrir?! Mesmo que seja só da sua carinha laroca, ou até mesmo do seu jeito travesso e desafiador - parece sempre, que as coisas não são o que são, aliás, para elas as coisas são sempre diferentes! Há sempre os "porquês" - porquê isto, aquilo, o outro e, o outro... como se para elas a formatação que escolhemos dar às coisas que nos rodeiam fosse absolutamente absurda - aliás, porque raio demos o nome de cadeira a uma coisa com pernas onde nos podemos sentar?! Elas não percebem isto. Talvez na sua óptica a cadeira devesse ter outro nome... sei lá... acho, que ser criança é mesmo assim! Tenho saudades do tempo em que tudo se podia questionar sem nos levarem a mal, sem nos olharem de lado - aliás, nesta altura até achavam giro perguntarmos e questionarmos tudo - mas depois crescemos, e esse encanto como que desaparece...
Lembro-me do Principezinho de Saint Éxupery:
- "Uma vez quando eu tinha 6 anos, vi num livro sobre a Floresta Virgem intitulado Histórias Vividas uma gravura maravilhosa. Mostrava uma jibóia a engolir uma fera. (...)
Nesse livro dizia-se que «as jibóias engolem a presa inteira, sem a mastigar. Depois ficam sem poder mexer-se e dormem durante os seis meses da digestão».
Pensei muito, nessa altura, nas aventuras da selva, e consegui então fazer o meu primeiro desenho a lápis de cor. (...)
Mostrei a minha obra prima às pessoas grandes, perguntando se o meu desenho lhes metia medo. As pessoas grandes responderam-me:
- Por que havia um chapéu de meter medo?
O meu desenho não representava nenhum chapéu. Representava uma jibóia a digerir um elefante. Então, desenhei a jibóia transparente, para as pessoas grandes compreenderem. Elas precisam sempre de explicações. (...)
As pessoas grandes aconselharam-me a pôr de lado os desenhos das jibóias transparentes e opacas e a interessar-me antes pela geografia, pela história, pela matemática e pela gramática. (...)
Ao longo da minha vida tive inúmeros contactos com inúmeras pessoas sérias. Convivi de mais com as pessoas grandes. Observei-as muito de perto. Nem por isso fiquei com melhor opinião.
Ao encontrar alguma que me parecia um pouco mais inteligente, experimentava mostrar-lhe o meu desenho número 1, que sempre trazia comigo. Para saber se era ou não realmente compreensiva. Mas recebia sempre a mesma resposta:
- É um chapéu.
Então não lhe falava nem de jibóias, nem de florestas virgens, nem de estrelas. Punha-me ao nível dela. Falava de brídege, de golfe, de política e de gravatas. E a pessoa grande ficava muito contente por ter conhecido um homem tão sensato."
- onde a raposa diz "vai ver outra vez as rosas. Compreenderás que a tua é única no mundo. Voltarás aqui para te despedires de mim e, como prenda, confiar-te-ei um segredo.
O Principezinho foi outra vez ver as rosas. Não sois nada iguais à minha rosa, nada soios ainda - disse-lhes. - Ninguém tem intimidade convosco e vós não tendes intimidade com ninguém. (...)
As rosas ficaram aborrecidas.
- Sois belas, mas vazias - disse-lhes ainda. - Ninguém pode morrer de amores por vós. Realmente, um trauseunte qualquer acharia a minha rosa parecida convosco. Mas, por si só, é mais importante que vós todas, porque foi ela que eu reguei. Porque foi ela que cobri com a redoma. (...) Porque foi a ela que matei as lagartas (excepto duas ou três para as borboletas). Porque foi ela que ouvi queixar-se, e gabar-se, e mesmo, às vezes, calar-se. Porque é a minha rosa.
Voltou então para junto da raposa:
- Adeus... - disse.
- Adeus - disse a raposa. Vou confiar-te o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos. (...)
- O tempo que gastaste com a tua rosa é que a fez ser tão importante. (...) Os homens esqueceram-se desta verdade - afirmou a raposa - Mas tu não te hás-de esquecer. És sempre responsável por aquele com quem tens intimidade. És responsável pela tua rosa..."
Mas, que em territórios de representação interna tudo é possível, a criança que há em nós existirá sempre, basta que decidamos que ela existe e a deixemos bem guardadinha e presente dentro de nós - e que a deixemos sair!

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