Minha
Mary, depois de muito ler, reler e reflectir sobre todos os sentimentos avassaladores que nos têm tomado de assalto nos últimos tempos,
dos "patos", das "femmes fatales", dos
"opposite", pergunto-me se as representações que construo das coisas e das pessoas, as formas de sentido que lhes atribuo são ou não reais, transparentes e verdadeiras - no sentido em que as reflectem. O que é que se quer, o que é que se procura, o que é que se espera? Tanta pergunta. Sinto-me como
o teu Lobo Antunes:"Vou-me olhando de forma cada vez mais distanciada e sem indulgência. A impressão, melhor: a certeza de haver falhado. O quê? Não estou deprimido, não me sobra tempo para depressões, sou apenas um homem, diante do seu espelho interior, que não gosta do que vê. O que poderia ter feito? O que deveria ter feito? Esta permanente tortura que a gente disfarça. A ideia recorrente que aquilo, quer dizer que a única coisa que a vida nos dá é um certo conhecimento dela que chega tarde demais, sempre tarde demais. Grandes cães que se entredevoram dentro de mim. (...)Apetece-me desaparecer atrás das palavras, ser de facto o ninguém que sou: um nome apenas, numa capa. E deixar o resto para mim, dado que não tem nenhuma importância colectiva (...) Nada mudou e tudo mudou: como eu gostava de ser pragmático, em lugar de viver numa nuvem cujos limites, aliás, distingo mal. Ou então a nuvem sou eu. Gasoso. De que raio de substância sou feito?" Será que sentir é suficiente?! Não é mesmo necessário tentar dar um significado mais formal a esse sentir?! Pô-lo em palavras para saber se é real?! Depois de escrever isto, parece-me um disparate. Como dizia Pascal "o coração tem as suas razões que a razão desconhece" e, o desequilíbrio quotidiano entre o sentir (o corpo), o amar (o coração) e o compreender (o espírito) pode até trazer ganhos na busca do equilíbrio, mas neste momento é um exercício desgastante. E o uso das palavras torna-se quase ridículo pela complexidade que escondem até um dia se revelarem! Ajudam-me a compreender, a classificar e a ordenar o mundo mas, e a diferença que existe entre aquilo que acreditamos das "coisas" e o que as palavras "fazem das coisas"?! ... parece uma luta inglória esta, a luta com a realidade por causa das palavras.
Umas vezes é assim, outras não! Se quiséssemos todos o mesmo também era um problema, porque não haveria maneira de satisfazer o mesmo gosto por uma mesma coisa - alguém ficaria sempre insatisfeito. Além disso, se estamos a falar no campo das relações humanas, presumo que ser contrariado ajuda a criar uma resistência à frustração necessária para a luta diária que é a busca de algo com que nos identificamos e que se identifica connosco. Já para não falar de que umas vezes pensamos que queremos coisas que afinal não existem realmente, foram idealizadas por nós e fabricadas por outros. Ok, mas a ideia não é continuar nesta negativa construção da fatalidade que é a insatisfação do nosso id. Num campo mais metafísico, talvez as coisas aconteçam de uma determinada forma por uma determinada razão, e no fim, o que resta é a eterna esperança da nossa resiliência. E talvez, talvez só para nos alegrar nos console o facto de a liberdade e alegria se encontrar dentro de nós próprios. Mesmo quando perdemos a forma como vivemos essa perda, de forma negativa ou positiva, depende da construção imagética que fazemos dela. Para acabar com a "dissertação" (que já chateia - lol), se queremos mesmo uma coisa queremos até ao fim! Até ao fim, quando se revela a realidade ao invés da idealização. Quem sabe se esse alguém não quer outro alguém que não existe. Ou que somos nós que queremos algo que não existe. Claro que fica a dúvida: não existe nessa pessoa particular, ou não existe em lado nenhum, ou existe dentro de nós e ainda não o encontrámos?!
Bem sei que tudo depende da perspectiva de que se vê. O problema: neste momento não tenho perspectiva, estou à procura de uma ou não quero escolher de entre as que tenho... Hoje, estamos em Novembro e, está "solzinho".
1 comentário:
É a luta inglória com a realidade que nos faz sermos seres que não se confinam unicamente a uma racionalidade fria e distante de todas as interrogações. Quem nunca se questiona, ou é porque não sente.. ou é porque vê tudo a preto e branco e não tem cinzentos. Que sorte! Mas não lhes gabo. Interrogar-nos faz-nos encontrar o nosso caminho amiga. E eu estou cá para acompanhar-te. Big kiss
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