domingo, dezembro 24, 2006

frio

Está um frio lá fora, um ar gélido, que parece ter capacidade de matar tudo o que precisa de calor... Mas cá dentro, cá dentro o frio é cada vez maior. Tem um agir lacinante, dilacerante, que me arranca o calor dos membros, que parece sugar-me para um vácuo sem fim, onde o frio é apenas um sintoma...
Gelei, porque descuidei o amor! O amor por mim, pelos outros. Fui egoísta, pensei apenas no meu umbigo. Olhei apenas para mim, e pensando melhor, nem isso fiz. Responsabilizei-me pelos meus actos. Senti-me mais aliviada, é um facto - mas o frio e a solidão continuam impregnadas em mim, como o sal da àgua do mar quando nos banhamos nele... É um facto que esse sal, tem capacidade e modo de sair, mas este não sai apenas com água! Era bom que assim fosse.
Numa altura de reunião com a família e os amigos, nem me reúno a mim própria num único ser, palavra ou sentimento. O contraditório está tão presente que até mete nojo! Farta do contraditório, e deste sentimento miserável de solidão, criado em parte por mim própria.
Gostaria de reconciliar-me comigo própria, com palavras, verbos e sentimentos que se encontrassem todos no mesmo tempo. Comigo!
Não há pior que magoar quem se gosta, quem se conhece como a palma da nossa mão, quem faz parte da nossa pequena vida há mais anos que os dedos de ambas as mãos... não há pior que fazê-lo levianamente, descuidadamente e depois não saber sequer o significado de tudo isso, já que a única coisa que sabemos existir é o vazio...
Queria apenas evitar entrar no vórtex, ou melhor entrar nele, mas integrar tanto as coisas boas como as más, de forma a poder viver plenamente... só conhecendo tudo, o que se é, se pode chegar a esse nome que é nosso e que nos torna unos - de espírito, corpo e agir.
Mas, como integrar uma sombra tão fria, estranha na forma e conteúdo, porque contrária e complementar ao mesmo tempo?! Queria saber o teu nome, mas nem o meu sei... Frio... Por mais lareiras, amigos e familiares que me tentem aconchegar, tudo permanece em mim frio, como se eu fosse um ser inerte e estranho ao que me rodeia...
Neste Natal, queria apenas encontrar-me. Esse meu nome verdadeiro, meu e da minha sombra!

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